Prometeram uma festa de milhões. Anunciaram a “maior edição da história do Pedrão”. Venderam a ideia de que Eunápolis, este ano, celebraria seu São João com pompa, tradição e respeito à cultura nordestina. Mas o que a população começa a enxergar é uma realidade bem diferente: uma festa esvaziada de identidade e recheada de escolhas questionáveis — como a presença do quase anônimo cantor “Grelo” em meio à programação.
Não se trata de implicância com nomes menores. Muito pelo contrário: o São João nordestino é justamente o espaço que celebra a música raiz, os artistas locais, o forró pé-de-serra, a sanfona, o xote, o baião e o sotaque de Luiz Gonzaga. Mas o que se vê em Eunápolis é uma festa desconectada da essência junina. Um evento inchado de atrações genéricas, alheias ao espírito da tradição que o Pedrão deveria representar.
A inclusão de um cantor como “Grelo” no meio da programação parece mais uma piada pronta do que uma decisão artística séria. Em vez de Elba Ramalho, Flávio José ou Alcymar Monteiro, o palco será ocupado por nomes que poderiam facilmente estar em qualquer micareta fora de época, mas jamais em um São João nordestino de verdade.
E o que é mais grave: tudo isso é anunciado com orgulho por uma gestão que, ao mesmo tempo, enfrenta denúncias de abandono na educação, libera estudantes mais cedo por falta de professores, e vê escolas municipais improvisando o básico. A população, cada vez mais atenta, começa a se perguntar onde estão os investimentos, as prioridades, o respeito pela cultura e pela comunidade.
O Pedrão sempre foi mais do que uma festa. Era uma celebração da identidade de um povo, da memória afetiva de gerações inteiras. Transformá-lo em um evento genérico, desfigurado e sem alma é mais do que uma decisão ruim — é um erro político e cultural.
Robério Oliveira prometeu o brilho das estrelas. Por ora, entrega luzes apagadas.