Eunápolis assiste, estarrecida, a mais um duro golpe contra sua identidade. O prefeito Robério Oliveira determinou a demolição dos muros do Estádio Araujão para viabilizar a realização do Pedrão – a tradicional festa de São Pedro que atrai dezenas de milhares de pessoas à cidade.
O que poderia ser um momento de celebração e alegria se transforma em mais um capítulo da triste crônica de abandono do nosso patrimônio histórico e esportivo. O Araujão não é apenas concreto. Ele é história. É onde tantas gerações gritaram gols, cultivaram sonhos e se uniram por amor ao esporte. Agora, vê-se reduzido a escombros, por uma decisão administrativa que beira o absurdo e fere o senso mais básico de responsabilidade pública.
Pior ainda é o contexto em que essa mudança acontece. O estádio, que já sofre com problemas estruturais, está localizado em uma área isolada, erma, próxima a territórios de disputa de facções criminosas. E é nesse ambiente que a prefeitura quer concentrar até 50 mil pessoas para uma festa popular? Onde está o planejamento? Onde está a segurança? Onde está o zelo pela vida das pessoas?
A troca da memória coletiva por alguns dias de festa é uma escolha reveladora. Revela a prioridade de uma gestão que prefere o aplauso momentâneo ao legado duradouro. Que opta por derrubar ao invés de restaurar. Que finge não ver o risco iminente à população em nome do espetáculo.
Enquanto isso, o povo de Eunápolis, que deveria ser respeitado e ouvido, assiste ao silenciamento de suas raízes. A demolição dos muros do Araujão não destrói apenas um estádio – ela fere nossa identidade, nossa segurança, nosso direito ao patrimônio. E isso, Eunápolis, não pode ser aceito com silêncio.
A pergunta que fica é: até quando o entretenimento vai se sobrepor à responsabilidade? Até quando a memória da cidade será moeda de troca para projetos eleitoreiros?