A empresa alvo da operação Ragnarok, investigada por vender e não entregar respiradores ao Consórcio do Nordeste, nunca teve os equipamentos oferecidos na venda, conforme destacou a delegada Fernanda Asfora, coordenadora do setor de Crimes Econômicos e Contra a Administração Pública.
A delegada detalhou as investigações durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (1º), mesmo dia do cumprimento de três mandados de prisão e 15 de busca e apreensão em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Araraquara (SP). A empresa Hempcare vendeu os respiradores por R$ 48,7 milhões.
Além de não entregar os equipamentos, a empresa é apontada pela não devolução da quantia paga pelo Consórcio. Outra empresa, a Biogeoenergy também é alvo de investigações.
A operação, conforme explica a delegada, se deu a partir de um inquérito policial instaurado, que tinha como objetivo apurar as fraudes no âmbito da contratação do Consórcio Nordeste com a empresa Hempcare, na compra de 300 ventiladores clínicos de UTI, que seriam distribuídos para todos os estados do nordeste. A Bahia receberia 60 respiradores e os demais estados ficariam com 30 cada.
“Diante dos inúmeros indícios de fraudes, caracterizou que a empresa nunca teve os equipamentos, tinham apenas uma expectativa remota de fornecer outros equipamentos, que não os contratados”, revela Asfora.
A delegada revela que o posicionamento da empresa com relação à contratação chamou atenção, após representantes informarem que todos os ventiladores comprados através da China estavam quebrados.
“Eles tiveram dois prazos. O primeiro lote seria entregue em 18 de abril e o segundo no dia 23 de abril. Diante dos descumprimentos, o estado estabeleceu 15 de maio como data final. Na véspera [dia 14]. A empresa apresentou uma carta dizendo que não devolveria o valor, dando outra solução”, conta.
Fernanda Asfora ainda detalha que a primeira empresa foi a contratada pelo consórcio, e a segunda forneceria os equipamentos diante do descumprimento do contrato.
“Tudo indica que já era uma fraude, já tinham em mente isso. Nunca pretenderam entregar os equipamentos importados. No último prazo, o Consórcio recebeu uma comunicação dessa segunda empresa, que surgiu nos fatos, de que a primeira empresa haveria adquirido junto a eles 380 ventiladores e que estariam prontos para serem entregues e eles [ao Consórcio]. O Consórcio não aceitou, porque não havia qualquer tratativa com essa segunda empresa, não eram os mesmos equipamentos que os contratados”, conta.
Segundo a delegada, a partir de então que foi descoberta a relação dessa primeira empresa com a segunda. Fernanda Asfora destaca que as investigações não se encerram neste momento, e que ainda restam as oitivas dos três presos, sócios suspeitos de participação na fraude.